Ah! Que maldade!

Já fazia horas que a velha jardineira percorria a estrada.

A poeira, fina com pó de arroz, que penetrava por todas as frestas e pelas janelas abertas devido ao calor, ia colando no suor dos rostos cansados.

Haviam saído de Assis às 14h30 e já tinham atravessado a fronteira entre os estados, o Paranagi e a balsa do Fisher. Estavam quase chegando em Primeiro de Maio.

Os passageiros já começavam a demonstrar alguma satisfação pela iminente chegada. Mas nem todos.

Aquele senhor alto e franzino sentado no fundo do veículo, sozinho, trazia no rosto o sinal evidente de um grande desconforto.

Rosto sem cor, ou melhor, completamente amarelo pálido, esverdeado até, suor escorrendo tanto que pingava na velha camisa de algodão. Não que algumas gotas à mais fizesse alguma diferença: a camisa estava tão molhada que poderia ser torcida.  Vez em quando seu Zé Jorge Chedid, o motorista, olhava pelo retrovisor e ficava imaginando o que estaria acontecendo com o compadre. Parecia à beira da morte!

A jardineira entrou suave e rumorosamente na rodoviária e parou no ponto. O amarelado passageiro, já de pé em frente à porta, esperou que o motorista a abrisse e desceu, cuidadosamente, os poucos degraus.

Todo empertigado, teso, a passos curtos e rápidos, aprumou-se em direção aos sanitários.

Seu Chedid, que não perdia um dos movimentos do compadre, chegou por trás do pobre sem deixar-se perceber e soltou um grito ao mesmo tempo em que lhe fazia cócegas na cintura.

Não deu outra! O barulho foi tão revelador quanto o cheiro: o fulano havia se cagado todo!