Anita e os bugios

Quando os Corrêa Porto chegaram para abrir suas terras, na barranca do Tibagi, não tinha estradas, havia muito poucas famílias. A mais próxima, família Siloski morava a alguns quilômetros da Água do Jacu. As outras bem longe, para o lado de Sertanópolis.  

Zé Corrêa comprou uma Winchester para a esposa, que se tornou exímia atiradora.  Gala, como Anita a chamava, tornou-se sua companheira inseparável. Eram tempos difíceis!

Como era de praxe quando alguém adoecia, naquela manhã o marido pediu-lhe que fosse ver uma criança lá pelos lados do mangueirão dos porcos. Saiu de casa  nervosa pois a responsabilidade era enorme.  Afinal era farmacêutica e não médica!

Já havia andado pelo picadão da mata uma boa parte dos mais de dois quilômetros até a casa da criança quando começou a ouvir um ronco forte e contínuo.   Instintivamente acelerou o passo de sua montaria.

O medo fez com que seus cabelos arrepiassem, mas a jovem mulher por nada nesse mundo voltaria para casa acovardada. Foi em frente até chegar à casa do seu Joaquim, o tratador dos porcos. Mas só ela e Deus sabiam em que estado chegou!

Atendeu a criança, fez as recomendações para a mãe, tomou um café e, como quem não quer nada, sem demonstrar o quanto estava assustada, perguntou ao casal o que é que roncava na mata. 

– “Num é nada não; aquilo é bugio. Ele ronca porque é tempo de roncá. Num faiz nada.” 

Naquele dia Anita chegou em casa orgulhosa de si mesma: havia conseguido enfrentar a mata para cumprir sua missão. 

 “Ela atirava bem, viu? O Zé Correia segurava um cigarro na mão e ela cortava com um tiro de wincheste. Era muié brava, viu? E ajudô a gente nesse Primer de Maio aqui que eu vô te fala.  Aqui não tinha nada naquele tempo. Era eles. Se eles não ajudasse, quem ia ajudá? Então a gente deve muito pra essa família! (Cesar Benelli)

 _ “A senhora sua mãe, Dona Anita, atirava bem, Ave Maria!” (Seu Fraquito)

    

Obrigada Seu Benelli e seu Fraquito por me darem a conhecer um pouco mais sobre minha amada avó