A carroça descia para o cemitério. Levava mais uma vítima do traiçoeiro Tibagi.
Por onde passava o veículo ia deixando, grudado no pó, o caldo escuro e mal-cheiroso que escorria do morto.
A menina, observando a cena, se aproximou, curiosa. Olhou atentamente para aquela coisa disforme, inchada, a pele – que havia sido negra – rachada e putrefata, olhos esbranquiçados.
_ “Credo, que coisa nojenta!”
_ “Cuidado. Não fala assim que o homem te pega à noite!” _ ralhou a mãe, brincando.
E eis que chega a noite, com todos os seus fantasmas.
Maria Annita, acordada, apavorada, suando em bicas tendo, na cama ao lado, uma Beralda morta de sono. Cada vez que fechava os olhos, a amiga se desesperava e dizia:
_ “Abre os olhos, Beralda!”
E Beralda abria os olhos. Mas, à luz da lamparina, sua pele negra deixava os olhos ainda mais brancos e neles a menina via os olhos esbugalhados do afogado. E, desesperada dizia:
_ Fecha os olhos Beralda!
E assim foi, por toda a longa noite!
E Maria Annita perdeu o medo, para sempre!
