As pilastras da varanda da casa do Bosque viviam cheias dos pedaços daquele queijo fedido de que Padre Chico tanto gostava. Chegava e já os colocava ali para “ventilar”; ao sair colocava alguns nos bolsos da batina e saia, exalando aquele fedor.
Naquele dia Padre Chico acordou, tomou banho, colocou uma batina recém lavada e saiu em busca do bispo.
Bispos eram tão importantes que sempre eram recebidos com a pompa reservada aos nobres; eram os príncipes da igreja católica. Mas aquele bispo, Dom Geraldo, não merecia tais honrarias: era irritantemente chato, abusava das suas prerrogativas, era prepotente. Agia como se o mundo existisse para servi-lo.
Ainda assim era cumpridor das suas obrigações e, algumas vezes, ia até as pequenas paróquias para participar de alguma comemoração importante.
Aquela era uma dessas poucas vezes.
Bem que o bom padre tentara se furtar a enfrentar a estrada poeirenta, a viagem cansativa, mas… E lá se foram os dois, no carro da diocese, com Padre Chico ao volante.

A festa foi boa, os paroquianos ficaram muito felizes e envaidecidos com a visita ilustre.
Hora de voltar para o bispado, a viagem de volta tão ou mais cansativa que a da ida, Dom Geraldo estava, visivelmente, extenuado.
Dias depois estava lá Padre Chico comendo seu delicioso queijo fedido, novamente acomodado na casa do amigo para as celebrações domingueiras.
“E daí, Padre, como foi a viagem com Dom Geraldo?”, perguntou Zé Corrêa.
_“Ah, José, foi muito boa!”, respondeu alegremente. “Procurei todos os buracos da estrada! Todos!