As duas meninas não davam sossego para o seu Rafael Martins. Toda vez que iam à mina levar comida para as lavadeiras pediam:
_ “Seu Rafael, dá garapa pra gente?”
E lá ia o homem para a moenda.
Num desses dias em que se levanta de pé esquerdo, sol muito quente, calor, poeira, seu Rafael atendeu prontamente ao pedido das meninas e foi moer a cana, enchendo vários litros.
Elas beberam o suco delicioso, com gosto.
Quando agradeceram, seu Rafael, olhando de um jeito de dar medo, disse:
_ “Bebe mais!”
Assustadas com a ordem, as garotas beberam mais. E mais. E mais. Cada vez que pensavam em parar o homem dizia:
_ “Coño! Bebe mais! Coño!”
As meninas quase morreram de medo e de tanto beber garapa.
E Seu Rafael livrou-se das duas para sempre!
Sabão de Cinza
Picava o toucinho para derreter a gordura (para a comida) e do torresmo era feito sabão:
- 1) Enchia um balaio com palha de milho (pra não vazar) e em cima da palha colocava a cinza. A cinza “adequada”, como se dizia, era a queimada de paus bem escolhidos. Enchia o balaio de cinza;
- 2) ia pingando água naquela cinza e ela ia soltando uma água preta, cáustica, chamada “adequada“;
- 3) levava o torresmo ao fogo, em um tacho, e ia colocando o caldo de cinza sobre ele (isso quando não tinha soda);
- 4) fervia até derreter tudo, engrossar e dar ponto de sabão;
- 5) depois de quase frio, despejava a massa de sabão dentro da
palha de milho, a qual havia sido tirada a espiga sem desmontar. Quando secava formava bolas, que eram guardadas.
Maria Annita