Num tempo difícil – de poucas e péssimas estradas e em que os meios de transporte eram cavalos e carroças – quem fosse proprietário de um veículo motorizado tinha sempre que estar pronto a dar carona para alguém. Naquele dia não foi diferente.
João Pereira, o motorista, acabara de colocar os porcos dentro do cercado de palmito na carroceria do único caminhão da Vila, quando chegou Nhô Euzébia. Era uma senhora de pele negra, quase retinta, que morava lá na fazenda do Zé Corrêa; era tia da Petronilha, uma linda mulata com corpo de virar a cabeça de qualquer homem.
Ao contrário da sobrinha, Nhô Euzébia era uma mulher feia, muito feia. Talvez por isso a lenda: era feiticeira. Entre muitas outras estórias, contavam que a tinham visto mascar uma folha de guiné ou, ainda, que havia colocado feitiço no Joaquim Maria, razão pela qual ele dormia tanto.
Nhô Euzébia subiu no caminhão e se ajeitou dentro do cercado de palmito.
De repente caiu aquele pé-d’água característico das chuvas de verão. Nhô Euzébia se enrolou num encerado e … dormiu.
O dia prometia ser quente. A poeira subia polvilhando o ar, formando uma nuvem avermelhada. A mulher logo perdeu a cor, impregnada que ficou daquele pó grudado em seu suor.
A viagem seria longa. Um dia inteiro seria necessário para chegar a Paraguaçu, onde os porcos seriam entregues.
Na primeira parada em que se fazia ponto para comer alguma coisa, João Pereira desceu, conferiu a carga. Nhô Euzébia, cansada, continuava dormindo.
_ “Escuta, Zé”, falou o motorista para o dono do boteco de beira de estrada.
_ “Estou levando uns porcos pra vender em Paraguaçu e morreu uma porca muito gorda no caminho. Se você quiser aproveitar pra fazer sabão, pode ir lá pegar enquanto eu tomo meu café.”
O homem, feliz da vida, aceitou, agradecido.
Começou a desenrolar o encerado quando, de dentro dele, sai de dentro aquela figura impressionante, coberta de pó, mais feiticeira do que nunca e, nessas alturas, furiosa.