O jantar estava delicioso. O leitão tenro, bem temperado, couro estalando de tão torradinho, pururuca. Parecia dia de festa, tanta a fartura.
Kurt, o dono da casa, alemão forte e rosado, cabelos tão claros que pareciam brancos, auxiliava a esposa a servir o amigo.
Zé Corrêa comia com gosto, apesar de acostumado à mesa farta. A esposa do amigo era excelente cozinheira. Mulher trabalhadeira e muito econômica, sempre na labuta junto com o marido, estava ajudando-o a amealhar um bom patrimônio.
Kurt era conhecido pela honestidade, mas, também, pela sovinice, se é que assim se podia falar de quem tudo aproveitava (tempos difíceis, aqueles!). Da beterraba, comiam até os talos, refogados. Da casca da banana faziam bolinhos (deliciosos!). As cascas do abacaxi eram fervidas, coadas e o caldo, engrossado com farinha de trigo, virava uma sobremesa leve e saborosa.
Por essas e por outras é que José estava tão surpreso com o convite para o almoço. Terminada a refeição os homens foram para a varanda fumar um palheiro, momento em que aproveitou para elogiar e agradecer.
_ “Ora, seu Zé. Não foi nada demais. Afinal era justo pois o senhor é que me deu o leitão!”
Zé Corrêa olhou para o amigo sem entender nada. Criava porcos, era verdade, mas criava-os para vender e não havia dado nenhum a Kurt. Inda mais agora que estavam com uma doença que ainda não sabia reconhecer. No dia anterior mesmo havia morrido um pequeno leitão….
Enquanto pensava nisso entendeu a que o alemão se referia, mas pedia a Deus para estar enganado! Seu estômago começou a revoltar-se. Sua visão ficou turva, enquanto aguardava o anfitrião concluir a fala.
_ “Sabe como é. A vida tá dura e a gente não pode desperdiçá nada. Eu catei aquele leitãozinho que o senhor jogou fora e a mulher preparou pra nós. Seu Zé, depois de assado o bichinho fica limpinho de qualquer doença. Então, prá que desperdiçá?”
A volta para casa foi um pesadelo pois cada vez que pensava no que havia comido, vinha aquela ânsia de vômito!