O casamento de Adelina

Chovia tanto que parecia que o céu vinha abaixo. Tudo alagado: quintais, ruas, casas…
O rio rugia, mesmo à distância.

Adelina, no entanto, nada enxergava à sua volta. Hoje seria o dia mais feliz da sua vida: finalmente iria se casar com Amâncio.

Pulou da cama, correu para o banho. A água da bacia já estava temperada: nem quente, nem fria.
Lavou-se caprichosamente, vestiu a roupa de baixo, de renda, o saiote de arame e alpaca e, finalmente, o lindo vestido. Tudo branco. Olhou-se no espelhinho pendurado no prego: estava deslumbrante!

Mal acabara de se aprontar, ouviu o chamado na porta. O noivo, as testemunhas e o seu João Pereira – que iria dirigir o pé-de-bode até Sertanópolis já que, com aquela chuva, o juiz de paz não vinha até a cidade.

A distância era pouca, cerca de 20km, mas o barro – ah, o barro! – deixava a estrada muito difícil. E lá se foram eles.

Desliza pra cá, desliza pra lá, mas seu João Pereira, habilidoso, conseguiu levar o carro ao destino.

E os noivos se tornaram “marido e mulher, até que a morte os separe!”.

Felizes, retornaram. Agora, para a festa.

E o pé-de-bode desliza pra cá e pra lá, e de novo pra cá e pra lá. A chuva não dava folga e a estrada parecia ensaboada. Tanto que, ao chegar na Setilha, o carro emplastrou todo e não saiu mais do lugar.

Os homens desceram, limparam um pouco do barro e começaram a empurrar.  Empurra daqui, empurra dali e… nada!

Depois de muito empurra-escorrega-cai-levanta-empurra, metro a metro, conseguiram chegar.

Felizes, muito felizes, apenas os noivos, é claro; os outros estavam num mal humor de dar dó. Descendo do carro Adelina ajeitou o melhor que podia o vestido que fora branco.

Entraram na sala e….ninguém e nada!

A festa já havia terminado!