Só quem viveu no início da formação de uma cidade é que pode preencher as lacunas de sua história. Esse é o caso da minha mãe, que este ano completará 92 anos, com muita lucidez.

Ela chegou em Primeiro de Maio há 91 anos, juntamente com seus pais, José Correa Porto de Abreu – que mais tarde foi o primeiro prefeito e sua mãe, Ana Ferreira Góes, a primeira professora. Foram eles os fundadores da cidade.

Minha mãe, que gosta muito de falar sobre o tempo antigo, me narrou fatos muito interessantes sobre esse início, os quais já havia ouvido da minha avó, anos atrás.

O norte do Paraná foi dividido em sítios e fazendas que foram vendidos a pessoas que quisessem desbravar a região. Entre os muitos que adquiriram terras, estavam meu avô e seu irmão Avelino Correa Porto de Abreu, que não chegou a viver na região.

Nessas terras, à medida em que os trabalhadores foram chegando para a derrubada da mata e posterior plantio do café, formou-se um agrupamento de pessoas que passaram a viver muito próximas umas das outras. Foi aberta uma rua onde patrão e empregados construíram casas, como se um povoado fosse. Para se ter uma ideia, no armazém da fazenda vendia-se de tudo, inclusive máquinas de costura.

Com a incidência da maleita devido à proximidade com o Rio Tibagi, nasceu e cresceu a ideia de procurarem um outro lugar para “transferir” o pequeno “povoado”.

Encontrado esse local ideal, Zé Correia, como era conhecido o líder do movimento, negociou as terras com o proprietário, Sr. Rigoni. Essas terras faziam limite com as do Sr. Frutuoso e as do Sr. Rafael Martins, entre outros.

Já proprietário das terras, Zé Correia projetou uma cidade com traçado regular e ruas com números. Reservou um quarteirão para as igrejas pois seu desejo, que não se concretizou, era de que todas dividissem o mesmo espaço. Reservou também um quarteirão para a escola. Os demais lotes foram vendidos ou doados, para quem quisesse ali construir uma casa ou instalar um comércio.

Todos os proprietários de terras ao redor – alguns deles também dividiram a terra em lotes para vender – foram procurados para que viessem morar no povoado já que, para adquirir a categoria de distrito, seria necessário um certo número de residências e de moradores.

Concretizada a mudança do “povoado” para esse local, Zé Correia alugou uma casa – onde acabou vivendo por anos e onde também funcionou o primeiro cartório – e passou a procurar um terreno para construir sua própria casa.

O local que mais lhe agradou era de propriedade do Sr. Frutuoso, de quem adquiriu os oito alqueires que iam do Rio Jacu até as terras do Sr. Manoel Martins. Dessa propriedade Zé Correia reservou “um alqueire e três quartos” para construir a casa que foi sua e de Dona Anita até o final de suas vidas: o local que hoje todos conhecem por Bosque.

Um cartão postal da cidade, um tesouro, uma linda reserva da mata nativa, preservada a duras penas.